terça-feira, 3 de julho de 2018

Corpos incorruptos de santos:Milagres ou farsas?

Entendendo o que são os corpos incorruptos
Corpos incorruptos são todos aqueles que,supostamente,não se decompõem por milagre divino como alegam muitas autoridades religiosas mundo afora,sobretudo no mundo católico onde existe maior divulgação desses supostos milagres.

Para elas,os corpos incorruptos são aqueles que se conservam intactos após a morte sem nenhum sinal de decomposição como Santa Bernadete,Padre Pio ou Santa Rita de Cássia por milagre de Deus que intercederia diretamente no corpo sem vida do(a) santo(a) deixando-o intacto para a eternidade.A incorrupção do corpo do(a) santo(a) seria o sinal de que a pessoa foi uma bem-aventurada,benfeitora merecendo a benção.Muitos desses corpos hoje preservados em vitrines e expostos ao grande público,não apresentariam mal cheiro ou putrefação impressionando os devotos e até mesmo o papa.De acordo com a maioria dos católicos que seguem essa doutrina,não existe outra explicação além dessa para o fenômeno.

Corpo 'miraculosamente' incorrupto de santo Padre Pio exposto na Itália


A mumificação natural de corpos
Muitas pessoas acreditam que somente através de embalsamamento,um processo de conservação, o corpo pode se manter preservado para a posteridade como as famosas múmias egípcias do faraó Tutancamôn ou Ramsés II.No entanto a mumificação também é um processo natural que em situações bem especiais pode acontecer.
No calor escaldante dos desertos,corpos humanos ressecavam espontaneamente no calor do Sol impedindo a proliferação de bactérias que o apodreceriam conservando-se assim durante séculos no clima seco e árido,sem nenhum tipo de intervenção humana para isso.

No frio intenso,um fenômeno semelhante ocorre quando corpos se conservam intactos com pequenos sinais de decomposição por milênios como Ötzi,um homem pré-histórico de mais de 7 mil anos de idade descoberto nos alpes italianos nos anos 1990.

Outro processo natural conhecido é a saponificação,quando o solo ao redor do defunto é argiloso e úmido que impede a proliferação de bactérias reagindo com a gordura corporal preservando o corpo ou partes dele,como geralmente acontece nesse processo de conservação natural.Calcificação e corificação são outros processos de conservação cadavérica natural conhecidas na medicina e biologia atuais,porém desconhecidas e cheias de preconceitos religiosos há séculos atrás,de onde muitos desses corpos vêm.

Ausência de oxigênio nos caixões e até reação química com o zinco deles durante os sepultamentos também implicavam em conservação natural do corpo em muitos casos.E como citado,muitos desses processos não eram conhecidos e estudados no tempo em que esses milagres de incorrupção foram decretados pela igreja,lançando assim descrédito quanto a sua veracidade,um detalhe hoje ainda ignorado.

Rosália Lombardo e Alfredo Salafia
Alfredo Salafia foi um químico autodidata que se tornou célebre na Itália no início do século XX por inventar uma técnica inovadora de embalsamar corpos para preservá-los por tempo indeterminado.Seu repertório envolve mais de 100 corpos embalsados ao longo dos anos de trabalho que incluem desde políticos,pessoas de alta classe e até cardeais.

Sua obra-prima seria a menina Rosália Lombardo,morta em 1920 em decorrência de uma grave pneumonia aos 2 anos de idade incompletos.Seguindo a antiga tradição de sepultar os mortos em igrejas e/ou mosteiros,Lombardo foi uma das últimas pessoas a serem sepultadas nas catacumbas de Palermo,um antigo mosteiro dos frades capuchinhos usados por estes por séculos para sepultamentos.

A perfeição da técnica é tamanha que Rosália é conhecida como a bela adormecida(foto abaixo)devido ao semblante que possui como se ainda estivesse viva porém dormindo.
Rosalia Lomardo parece estar dormindo 

Comparando a fotografia de Rosália Lombardo com a de Santa Bernadette(foto abaixo)se constata que a integridade física dos corpos é impressionante e impecável,sem nenhum sinal aparente de decomposição,apenas uma leve camada de cera foi aplicada sobre a pele de ambas.
Corpo 'incorrupto' de Santa Bernadette,falecida em 1879 e exposto em uma vitrine na cidade de Nevers,França

Por um lado temos um método comprovadamente científico aplicado em Lombardo e do outro,um misterioso caso sobrenatural?

Cumpre ressaltar que visitantes e trabalhadores das catacumbas de Palermo relataram que os olhos de Rosália Lombardo abriam e fechavam misteriosamente numa polêmica que gerou superstições em torno do corpo da menina.No entanto no ano de 2009,o curador e arqueólogo responsável pelas catacumbas Dario Piombino-Mascali esclareceu que tudo não passou de uma ilusão de ótica provocada pela mudança de posição do corpo da menina que fez a luz refletir melhor nas pálpebras criando o efeito de abrir e fechá-las.É conhecido também que oscilações na umidade e temperatura no ambiente causam contrações e alterações em materiais de origem orgânica como corpos humanos,o que também explicaria o efeito na múmia de Lombardo.Esse fenômeno também é relatado no corpo incorrupto de Santa Rita de Cássia exposto na Itália em condições semelhantes.

Milagre ou ciência?
A Igreja Católica é enfática em recusar acesso aos corpos incorruptos para estudo,assim como na maioria de suas relíquias sagradas o que dificulta a comprovação de um suposto milagre divino intercedendo junto aos santos católicos,até mesmo uma hóstia convertida em sangue e carne humanos é creditada como milagre católica sem respaldo científico.Os defensores dos corpos incorruptos recusam aceitar que se tratam de casos de mumificação natural ou métodos químicos de conservação de corpos reconhecendo que todos os testes já foram aplicados restando somente o milagre divino como comprovação da fé assim como afirma o estudioso católico padre Oscar Quevedo que escreveu um estudo sobre o assunto publicado em livro.

Outros pontos também merecem esclarecimentos,pois embora hajam corpos incorruptos nas Américas e Ásia,a maioria esmagadora concentra-se na Europa onde as técnicas de conservação cadavérica eram mais aprimoradas,conhecidas e aplicadas inclusive em membros da igreja como Alfredo Salafia reconhecidamente fez.É plausível que as técnicas de embalsamamento fossem aplicadas e não documentadas para a posteridade,aliado às superstições sobre mortos e pessoas santas geralmente de reputação impecável, o segredo permanecia como um suposto milagre divino.Já que para se tornarem santas,seus corpos precisavam estar incorruptos após a morte e seu sepultamento,sinal de milagre divino.

É reconhecido também que a Igreja católica mantinha censura sobre assuntos religiosos que poderiam arrefecer a fé cristã de seus seguidores e diminuir seu poder temporal portanto manter discrição e segredo sobre tais assuntos era fundamental.Muitas relíquias sagradas também eram comprovadamente forjadas,sobretudo durante a Idade Média onde favores concedidos por papas e cardeais eram pagos em espécie a custa de farsas como venda de itens sagrados como ossos de santos e pedaços da cruz de Cristo.É nesse contexto que os corpos incorruptos,símbolos de milagres surgem como confirmação do poder de Deus.

Diante de tantos indícios e provas de mal-entendidos e até fraudes já explicadas pela ciência porém ignoradas e menosprezadas,os corpos incorruptos se mantêm para os crentes da cristandade católica,maior defensora desse fenômeno.No entanto os indícios e fatos científicos são claros quanto a veracidade de tais fenômenos.

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