domingo, 28 de junho de 2020

O outro lado da conquista do Velho Oeste americano

  Nada é tão bem conhecido do grande público quanto o Velho Oeste americano.Caubóis,índios,animais selvagens,duelos de pistola e cavalaria se imortalizaram em desenhos animados,filmes de faroeste,novelas e até fantasias ao longo do tempo.Porém por trás do lado lúdico explorado pela indústria cultural existe uma série de questões políticas-ideológicas por trás da ocupação dessa área inexplorada dos EUA pelo colonizador.


O Nascimento da Nação Americana

  A  declaração de independência em 1779 representou um marco histórico importante não apenas para os EUA mas para todo o continente pois foi o primeiro país americano a se libertar das garras da metrópole.O processo de industrialização americana avançou muito rápido desde então vendo sua população crescer exponencial
mente.Ao mesmo tempo que sua população crescia,sua economia prosperara a um ritmo pouco igualado na história ultrapassando a sua ex-metrópole inglesa ainda em 1890.
 
   O incremento de técnicas mais aprimoradas de agricultura,uso pioneiro de fertilizantes,mecanização do campo transformaram o país numa potência em expansão e grande gerador de capital.

A tecnologia a serviço do Governo

  Com a industrialização do país e a explosão demográfica de colonos em busca de riqueza fácil a tecnologia prestou grandes serviços a favor do governo. Com a introdução da pistola de 6 tiros,barcos e locomotivas a vapor cada vez mais rápidas e avanços nas telecomunicações como o telégrafo de Samuel Morse,uma tecnologia de ponta para a época,a expansão e ocupação acelerada de grandes áreas desconhecidas do colono branco euro-descendente se tornaram realidade. 
   Nada parecia segurar o progresso inadiável dos EUA tendo a tecnologia como grande aliada.

O Problema do índio

 
 Com a publicação de ''A Origem das Desigualdades entre os Homens'' de Jean Jacques Rosseau ainda no século XVIII o mito do bom selvagem persistiu até a ''Marcha para Oeste'',uma política de expansão do governo norte-americano para o Oeste do país,uma área ainda selvagem e inexplorada dos EUA.

   O índio que antes foi conhecido por sua amabilidade e passividade ante a colonização européia do continente passou a ser visto como um entrave ao progresso pois representava o atraso da nação.

   Muitas teorias publicadas na época tentavam inclusive desmerecer a humanidade do índio e do escravo africano de modo a justificar sua submissão. Vide que a teoria da Seleção das Espécies de Charles Darwin foi utilizada com esses objetivos.

As ferrovias chegam..

    A expansão industrial americana facilitada pela construção em massa de uma longa e pujante rede de transportes interligando o país exigia mais terras para a agricultura.

   Até o início dos anos 1800 o território americano não tinha a extensão atual e muitos estados foram sendo incorporados bem aos poucos durante este século.O Alasca foi comprado da Rússia enquanto a Califórnia e o Novo México vieram de uma sangrenta guerra entre o México e o EUA e partes da estado da Flórida foram tomadas da coroa espanhola e assim em diante.Mas como já citado anteriormente enquanto o país crescia mais colonos queriam terras para plantar,ficarem ricos pois as inovações tecnológicas explodiram.

 O Destino Manifesto americano

  Os EUA conseguiram uma ''justificativa'' muito eficiente para ocupar o Oeste introduzindo o ''progresso'' tão almejado pelo poder público americano.O Destino Manifesto foi uma política governamental com apoio jurídico e filosófico que se acreditava possuidora de um dever legítimo de levar o avanço do mundo moderno ao interior.

Representação do  Destino  Manifesto

  Na figura acima,uma mulher que representa o  Destino Manifesto ,conhecida  como  Colúmbia,segura um livro e um cabo telegráfico símbolos do avanço técnico e educacional enquanto ao fundo carroças de colonos avançam ao Oeste afugentando índios e animais.O Destino Manifesto portanto teria o direito e dever de modernizar o país.

   A conquista do Oeste americano se processou rápida e determinante no futuro do novo país,pois exterminou e/ou deslocou milhões de índios de suas terras de origem para locais afastados e inóspitos.O livro Enterrem meu Coração na Curva do Rio mostra o dramático fim que muitas tribos indígenas americanas tiveram com o avanço do governo americano para o Oeste.

   As guerras contra os índios representam um capítulo importante dentro da história americana pois suscitam muitos debates acerca do genocídio cometido contra os nativos do país como do continente em si após a chegada do europeu.

   Poucos foram os casos onde os nativos tiveram alguma participação importante contra o domínio do colonizador. Alguns chefes índios como Gerônimo,da nação apache,e Touro Sentado do grande grupo dos índios Sioux foram responsáveis por batalhas vitoriosas tanto no campo militar
quanto diplomático.

Gerônimo


   As armas de fogo introduzidas pelo francês e o inglês além dos cavalos pelos espanhóis fizeram desses índios guerreiros qualificados durante os confrontos com tropas do exército americano embora não fosse suficiente.
 

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A vida dentro de uma caravela espanhola da época dos descobrimentos


domingo, 21 de junho de 2020

O velho e o novo populismo na América Latina

  A América Latina no pós-Segunda Guerra mundial viu uma explosão de governos que buscavam apoio incondicional da população promovendo benefícios e melhorias para os mais humildes com a intenção de eliminar ou diminuir as desigualdades sociais ,uma prática marcante do continente que ficou conhecida como populismo. 


Juan Domingos Perón,um dos maiores populistas do continente 


   O populismo se ajustou muito bem à realidade subdesenvolvida da América Latina ainda marcada pela pobreza,submissão ao liberalismo imposto pelos EUA e à corrupção.

  Com o fim da Segunda Guerra em 1945 e o início da Guerra Fria os EUA impuseram uma série de políticas para a América Latina devido ao medo desta se tornar área de influência soviética como havia acontecido em Cuba com a Revolução de Fidel Castro e portanto um país comunista.

   O Brasil tem a sua maior figura populista na imagem de Getúlio Dornelles Vargas,popularmente conhecido como "pai dos pobres" pois encarnava rigorosamente esse perfil de líder.

Comício popular com foto de Getúlio Vargas 


   Na América Latina a figura do caudilho,grande e influente fazendeiro que detêm poderes políticos quase ilimitados dentro do país, reflete a cultura do povo dependente de uma liderança nacional e não estrangeira mesmo com a presença recorrente da corrupção.

A América para os americanos 

  Esse foi um slogan muito difundido pelo governo americano para dissuadir governos estrangeiros,os europeus,de intervir no continente que agora era sua exclusiva área de dominação.

   Por isso a partir da década de 1950 muitos governos latinos absorveram e aprimoraram propostas que iam contra a influência americana como reformas trabalhistas,estatizações de recursos naturais,reforma agrária,reducão de impostos dos mais pobres entre outras com o objetivo de diminuir as desigualdades sociais e promover a economia.

    Do ponto de vista ideológico essas medidas populistas passaram a ser vistas como comunistas pela classe mais rica da população e o governo americano que articulou regimes onde os militares estariam no poder.

   Mas foi com a queda desses regimes militares a partir dos anos 1980 que figuras populistas, aos poucos e mediante eleições,retomaram o poder em todo o continente.

Novo populismo?

  A eleição de líderes de origem indígena no Peru,Bolívia e Venezuela e  líderes trabalhistas no Brasil por exemplo inspiraram comunidades antes ignoradas pelos líderes de origem européia.

  Hugo Chavez na Venezuela se converteu num dos maiores líderes populistas do continente pois manifestava elementos socialistas no padrão histórico,anti-americano e militarista traçando assim um perfil de liderança comum durante a redemocratização pós regime militar latino.

Hugo Chavez 

  O fenômeno de um novo populismo no continente absorve as velhas reivindicações da população mais pobre e desassistida por melhorias sociais. Questões como o comunismo,caudilhismo e nacionalismo retornam em moldes modernos,e em alguns casos com políticas explícitas contra os EUA e sua influência regional.

  Embora o populismo seja um fenômeno que tenha adquirido importância dentro de um contexto social do mundo subdesenvolvido,as constantes atualizações no cenário político mundial,fez líderes com tendências radicais e nacionalistas,conhecidos como extrema-direita,também absorverem elementos desta antiga filosofia de governo.

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terça-feira, 16 de junho de 2020

O Mistério das pirâmides: entre a realidade e a ficção

Esse foi um assunto que despertou a curiosidade do público a partir de programas de tv a cabo e certos filmes que abordam temas envolvendo uma suposta vinda de extraterrestres ajudando na construção dessas obras arquitetônicas banalizando a história por trás delas.Embora haja um caráter lúdico em interpretar as pirâmides como obras de extraterrestres,existem estudos muito sérios que abordam o tema.


O mistério das pirâmides 


    Os povos da Antiguidade,notadamente os egípcios e mesopotâmicos e depois maias,astecas e cambojanos em tempos medievais construíam pirâmides. O significado dessas obras arquitetônicas demorou para ser decifrado mas tudo sempre esteve muito claro:templos ou túmulos sofisticados.

   Hoje as pirâmides tem uma forte conotação mística nas pessoas que as consideram como fontes de "energia" e esoterismo.Existe uma grande associação delas com positividade e o lado oculto da natureza explorado por ciganas,new ages e hippies que buscam estilos de vida alternativos.

   Contudo os antigos egípcios por exemplo utilizavam a figura da pirâmide como um túmulo sagrado para sepultar seus faraós,seu Deus vivo enquanto os astecas,no México,utilizavam-na como templo religioso para seus sacrifícios humanos.

    Mas eis uma pergunta sobre tudo isso:como povos tão distantes no tempo e espaço como egípcios e astecas conseguiam construir a mesma forma geométrica sem nunca terem se conhecido?

Por que tantas pirâmides?

   Passando pela teoria dos deuses astronautas que sugerem a assessoria de seres de outros planetas ajudando-os a construí-las existe uma teoria mais realista e científica chamada de difusionismo na história e arqueologia.Ela orienta que os antigos povos do mundo podiam construir formas geométricas semelhantes devido à difusão delas seja através da arte,comércio,guerras e qualquer que seja que eles trocavam entre si.

  Muitos historiadores e arqueólogos que são os especialistas que estudam mais a fundo este fenômeno argumentam também que uma das razões que os egípcios escolheram fazer pirâmides foi devido à evolução das mastabas,túmulos superficiais, para as pirâmides escalonadas. Esses tipos de pirâmides eram construídas em degraus como se fosse uma escada simbolizando a ascensão do faraó ao céu.

Exemplo de uma pirâmide de degraus


   A arqueóloga britânica Kathryn Bard argumenta também que os egípcios se baseavam nos raios solares para fazer as linhas das suas pirâmides.Até mesmo os antigos babilônios construíam pirâmides,a bíblica Torre de Babel era uma delas.Na tradição de sua cultura,um templo dedicado ao deus Marduk,o Todo-Poderoso da Babilônia ficava no seu ápice.

    Para todos os efeitos,as pirâmides se tornaram uma referência simbólica dos povos antigos,principalmente egípcios, já que são as únicas maravilhas da Antiguidade ainda existentes. São também um objeto de pesquisa atraente para arqueólogos e historiadores que continuam despertando curiosidade e fascínio.


Leituras adicionais 
   Para entender mais o que é a teoria dos deuses astronautas, clique aqui para acessar sua explicação e uma análise dela pelo blog.

  Para saber mais sobre ufologia,clique aqui para ler uma postagem que explica esse assunto.

   Entenda mais sobre o movimento hippie clicando num artigo do blog sobre ele bem aqui.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

E se os árabes tivessem conquistado toda a Europa?

  Um dos fatos históricos mais estimulantes que o mundo desperta curiosidade é sobre o destino da Europa se a expansão muçulmana no continente tivesse sido completa como aconteceu no Norte da África e na Península Ibérica (Portugal e Espanha).

O profeta Maomé


E nasce a religião muçulmana..

    O profeta Maomé,líder absoluto da religião  islâmica,pregou a expansão do credo muçulmano em vida e que continuou após sua morte entre seus seguidores. A religião islâmica é um marco fundamental dentro da história global pois foi um elemento aglutinador num sistema milenar:o tribal,que era como a sociedade se organizava na Península Arábica e em todo Oriente Médio e Norte africano em seu tempo.
  A religião assim serviu para unir diferentes tribos em torno de uma única ideia:um Deus soberano.Logo essas tribos recém convertidas ao Islã iniciam um ambicioso processo de expansão que chegaria à Europa.

   A conquista da Europa por parte dos muçulmanos que ficariam conhecidos no continente como maometanos ou sarracenos ocuparia Portugal e Espanha chegando ao Sul da França,sendo ali contidos por Carlos Martel na Batalha da cidade de Poitiers.

O Renascimento Islâmico 

   Considerando as realizações árabes durante os séculos que permaneceram na Europa pode-se induzir os resultados do que seria uma ocupação total do continente assim como foi em outras áreas. Pois foi justamente com os muçulmanos que muitas invenções e engenhos utilizados por europeus durante as grandes navegações seriam possíveis como a bússola e o astrolábio. A alquimia,a precursora da química moderna foi uma introdução árabe embora seja um fato desconhecido  do grande público,a própria palavra álcool e alquimia são de origem árabe.

As grandes navegações foram ajudadas por engenhos trazidos pelos árabes


   A época da ocupação muçulmana também introduziu novos estudos de física,astronomia e filosofia à Europa que ainda estava vivendo com a questão da perseguição religiosa com o advento da Inquisição,cruzadas e o cesaropapismo. Foi a época do Renascimento Islâmico.

   Muitos cientistas,intelectuais e médicos como Avicena,Averróis e Al Sufi tiveram papéis centrais nesse movimento de renovação das ciências e artes do mundo medieval.

Avicena

   Embora a história não seja feita de "se isso" ou "se aquilo" como já citou o renomado historiador inglês Eric Hobsbawm pode-se imaginar uma Europa diferente com a expansão muçulmana até os confins do continente. 

segunda-feira, 1 de junho de 2020

O Glamour de Wall Street-Entre a prosperidade e o exagero do Dinheiro

Uma das maiores marcas que o capitalismo internacional produziu no imaginário popular sem dúvida tem a ver com um nome bem conhecido:Wall Street em Nova Iorque,o centro financeiro dos EUA e por extensão do mundo onde são negociadas as empresas mais prósperas e influentes do mundo como Microsoft, Apple, Space X e etc.




   Assim permanece na mente das pessoas uma ideia de prosperidade ligada ao capitalismo e um glamour inconsciente gerado pelas especulações financeiras e as grandes quantidades de dinheiro que circulam pela bolsa de valores localizada nela.

Wall Street,a ''Rua do muro'' e coração financeiro do mundo

    Wall Street é a rua do muro(em tradução livre) batizada com esse nome devido às circunstâncias históricas que a cercam.No início da colonização da ilha de Manhattan em Nova Iorque colonos holandeses ergueram um muro para impedir o ataque de índios e ingleses às suas posses.Porém mesmo com o muro os ingleses conseguiram superar as forças holandesas e ocuparam a área.

    Depois da posse do local uma rua foi construída em volta do que restou do muro holandês batizando-a.A questão é que no inicio Wall Street era uma uma rua como outra qualquer na colônia sem nenhum tipo de importância econômica.A Revolução Industrial americana mudou tudo!

O Empire State Buiding,símbolo de Nova Iorque e do capital gerado pela cidade

Leia mais sobre o Empire State de Nova Iorque em uma postagem recente do blog clicando aqui.

   Wall Street se tornou aos poucos uma referência de local onde grandes volumes de dinheiro são negociados.Com a prosperidade econômica americana em fins do século XIX a cidade de Nova Iorque se tornou uma próspera e rica metrópole do Novo Mundo em moldes europeus.A quebra da bolsa de valores em 1929 mostraria ao mundo a dependência econômica que ele tinha para com essa grande metrópole e em especial à Wall Street.

Leia mais sobre a quebra da bolsa de 1929 numa postagem já publicada aqui no blog,clique aqui para ler.

   Em termos práticos todas as grandes marcas tem valores negociados diariamente na bolsa de valores com investidores fazendo grandes lances em seus pregões.Até mesmo as marcas mais influentes do mundo tiveram seus momentos de vacas magras em seu início.Hoje com seus faturamentos bilionários,investidores engravatados passeiam pelo coração do centro da cidade desfilando com carros que custam milhões para seus iates e aviões particulares.


  Uma realidade similar à essa já foi romanceada em livros e filmes como o Lobo de Wall Street com Leonardo DiCaprio no papel principal do megainvestidor Jordan Belfort que vive uma vida de luxo e exageros gerados pelos lucros de seus negócios na bolsa.Uma realidade que muitos investidores de fato vivenciam: na trama adaptada do filme Jordan ainda como pequeno investidor de ações de baixo valor demonstra seu cinismo em vendê-las para pessoas que não terão lucro ao comprá-las e assim enriquece até multiplicar seu patrimônio.

  Suas memórias contam os bastidores de grandes corretoras e da própria Wall Street mais preocupada em fazer fortunas milionárias e bilionárias independente dos prejuízos causados a terceiros no processo como dívidas e falências.Atividades como consumo de drogas,prostituição de luxo e consumismo ostensivo prevalecem sobre valores como ética e empatia.Grandes festas promovidas em hotéis de luxo da cidade regadas a grandes quantidades de bebida alcoólicas e drogas seduzem jovens investidores ávidos por fazer dinheiro fácil.

   De fato houve um processo de glamourização da bolsa de valores nova-iorquina,ou seja,uma ideia de que a fortuna pode ser criada de modo simples e fácil desde que com muita ambição e um certo cinismo em convencer outras pessoas a comprar aquilo que não servem para elas.Há uma certa tendência social em considerar o lucro como uma fase importante do processo de capitalização da riqueza e status financeiro que emoldura as pessoas de acordo com sua conta bancária.



  O sociólogo alemão Erich Fromm em sua obra Psicanálise da Sociedade Contemporânea também considera o consumismo um vício que corrompe as relações humanas em sua plenitude já que as mantem ''presas'' ao status que o dinheiro induz.Wall Street no caso desempenha uma referência romanceada e idealizada que o capital financeiro formou ao longo do século XX.


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