domingo, 10 de março de 2019

Mas afinal:quem foram os primeiros americanos?

   Atualmente quando se fala em primeiros americanos,diferente do que costumamos pensar a princípio,não estamos falando somente dos Estados Unidos onde o termo é mais usado mas do continente americano de modo geral,cuja colonização hoje vibra com tantas contradições sobre o suposto 'pioneirismo' dos europeus em descobrirem-no.

   Há 500 anos as dúvidas sobre a origem dos  povos indígenas,já estabelecidos no continente à chegada de Cristóvão Colombo,suscita a curiosidade de arqueólogos e historiadores que pretendem investigar a fundo como a colonização da América acontecera.Esse é um tema amplo cheio de detalhes e será desenvolvido no post de hoje.



    Levando em conta a história oficial produzida no Ocidente,o continente teria sido descoberto em outubro de 1492 com o desembarque de Colombo nas ilhas do Caribe a bordo de 3 pequenas caravelas.A maioria das pessoas que tem ido às aulas de história confirma a versão contada por europeus desde essa época.

    Os indígenas que foram 'descobertos' por Colombo desde então foram vistos com muita curiosidade devido a seus costumes e rituais.Não era comum,um espanhol ver uma pessoa despida que vivia em pequenas cabanas de palha e madeira do modo que eram os índios.

   O choque cultural entre eles é um fator chave nas relações sociais que se desenvolveriam ao longo da era da colonização daquela época em diante.
As armaduras de aço,armas de fogo,cavalos e outros aparatos técnicos junto a ganância por metais preciosos foi um fator decisivo neste processo.

Colombo fundando uma colônia em volta de muitos indígenas


Uma história mal contada?
   Mas realmente os europeus foram os primeiros a chegar ao continente mesmo tendo pessoas já vivendo nele?A pergunta parece retórica mas tem um fundo histórico importante já que a cultura indígena não foi levada em consideração no que tange a ocupação das Américas.
   Somente em épocas recentes a sua real relevância tem sido estudada por arqueólogos,historiadores e antropólogos que investigam as origens da civilização americana pré-colombiana,ou seja antes de Colombo.Uma parte importante deste projeto de resgate da história dos povos nativos do continente tem sido em torno de povos com uma cultura mais desenvolvida embora também fossem considerados como selvagens como no caso dos maias,incas e astecas.

Pirâmide maia,símbolo arquitetônico antes da chegada européia

   Hoje embora o termo esteja sendo continuamente desusado ainda persiste uma certa aceitação de que os indígenas de fato eram pessoas sem cultura,sem civilização que andavam nuas e descalças cultuando deuses pagãos que não reconheciam Cristo como seu salvador.
    O mito do bom selvagem pregado principalmente com a publicação da obra Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens de Jean Jacques Rousseau no século XVIII serviu para sedimentar esta ideia no imaginário popular.O índio devido ao seu estado natural de pureza moral sem acesso à corrupção que a vida comum que a sociedade civilizada trazia era o exemplo maior de inocência como o filósofo pregava.
     Uma ideia inclusive aproveitada pelos escritores românticos brasileiros como José de Alencar que recuperaram o indianismo nas histórias populares brasileiras criando personagens tipicamente índios como em Iracema e O Guarani,hoje grandes clássicos da literatura comuns em salas de aula.

    Porém a cultura dos povos nativos  americanos já havia se consolidado nas Américas há muitos milhares de anos antes até mesmo dos vikings,precursores europeus na América.

Uma postagem sobre a chegada viking no continente americano anterior a Colombo publicada no blog pode ser acessada clicando aqui.

    O que os arqueólogos contemporâneos tentam e conseguem fazer é recuperar um passado muitas vezes ignorado e esquecido que os livros não contam.Os vestígios de ocupação das Américas retrocedem há cerca de 15 mil anos no passado,inimaginavelmente anterior aos primeiros europeus.
    Há vários sítios arqueológicos desde a cultura Clóvis,alegadamente a primeira,até Monte Verde no Chile ou a Serra da Capivara no Brasil com restos antigos da presença de seres humanos.

Pintura pré-histórica na Serra da Capivara,uma das mais antigas das Américas

Mais de uma teoria para a ocupação das Américas
    Embora o não reconhecimento dos povos nativos como descobridores das Américas ainda persista nos livros a arqueologia já trabalha com ela.E não é de hoje que estudiosos tentam confirmar qual a teoria mais plausível para a chegada desses índios no continente.

    Por muito tempo a arqueologia produzida nos EUA afirmou que uma passagem terrestre como uma ponte teria ligado a Ásia à América pela Sibéria,nordeste da Rússia durante a última era glacial como descrito no mapa abaixo.



    Essa era glacial teria baixado o nível dos oceanos em até 120 metros abrindo caminho por onde antes eram águas profundas e assim permitindo a passagem de caravanas de homens pré-históricos para ilhas isoladas como no arquipélago da Indonésia por exemplo.Assim grupos humanos vindos da Sibéria teriam atravessado o Estreito de Bering que liga ambos os continentes por uma pequena massa de água congelada durante a glaciação em 2 levas consecutivas.
    Uma longa caminhada que durou centenas ou até milhares de anos até o Sul do continente teria completado a ocupação de Norte à Sul das Américas.

    Até pouco tempo atrás a chamada cultura Clóvis era reconhecida como a primeira civilização da América com cerca de 13 mil anos de idade.Eles tinham esse nome devido a cidade em que foram descobertos artefatos humanos como pontas de flecha em pedra por exemplo.
Esses artefatos foram muito importantes na confirmação de que a colonização do continente começou pelos EUA.Porém hoje foram descobertos outros sítios arqueológicos com provas da presença humana anterior a 13 mil anos como foi constatado em Clóvis.
    Monte Verde no Chile pode ter uma das provas mais antigas de seres humanos no continente com mais de 14 mil anos de idade com restos de fogueiras,uso de couro e artefatos artísticos.

    Assim a teoria de múltiplas entradas começou a ganhar corpo no meio científico já que os 13 mil anos dos Clóvis não eram mais a data mais antiga de ocupação da América.É provavelmente certo que os homens pré-históricos encontraram outras passagens em direção à América e não apenas uma como a arqueologia americana afirmava há décadas atrás.Hoje alguns estudiosos acreditam em jangadas e canoas como meio de transporte até o continente.

    Segundo o historiador e arqueólogo Jared Diamond,a América foi o último continente a ser colonizado há cerca de 15 mil anos e o deslocamento até o Sul alcançando a Argentina e o Chile poderia ter sido feito em mil anos.

    Em Minas Gerais no Brasil uma antiga moradora do local chamada carinhosamente de Luzia teria vivido há mais de 11 mil anos cujo crânio recuperado por arqueólogos encontra-se hoje no Museu Nacional no Rio de Janeiro.Luzia é considerada a brasileira mais velha do país.

Fóssil e reprodução artística de como seria Luzia,a brasileira mais antiga do país

América para os americanos?
    Logo não existe apenas uma versão para a ocupação das Américas como se acreditava até pouco tempo atrás em relação a passagem da Ásia para o Alasca,norte do continente.Do mesmo modo que os primeiros europeus confirmados a chegarem não descobriram-no.
   Esse debate de descoberta da América ganhou contornos mais sérios quando se celebrou os 500 anos da chegada de Colombo onde este termo foi posto em cheque por palavras como achamento ou invasão por alguns autores portugueses mas já em relação ao Brasil supostamente descoberto por Pedro Álvares Cabral.

    Os indígenas outrora considerados como seres humanos selvagens e sem civilização hoje são vistos com mais simpatia e seriedade em relação às suas tradições revigoradas como legítimas representações culturais de seu povo por antropólogos como o francês Claude Levi Strauss ou os brasileiros irmãos Villas-Boas que conviveram com tribos para compreender ainda mais sobre o universo dessas pessoas.

Irmãos Villas-Boas,maiores protetores dos índios brasileiros na era moderna

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