quinta-feira, 21 de março de 2019

A Polêmica ciência da Guerra Fria

A Guerra Fria(1946-1991) foi um período tenso do século XX entre a antiga URSS e os EUA,ambos respectivamente representando ideologias contrárias,a saber,o comunismo e o capitalismo.Uma batalha que superava a questão econômica,social,política e até mesmo científica que via no adversário um inimigo mortal a ser batido.No post de hoje vamos compreender como a ciência produzida na Guerra Fria por cientistas tanto soviéticos quanto americanos,foi usada para conquistar fama e respeito mas ao mesmo tempo violava a ética acima de qualquer conduta humanitária.

Contexto e pretexto
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o uso das 2 primeiras armas nucleares contra pessoas em 1945,o mundo então passou a ser refém de outra guerra ainda mais hostil e velada entre a URSS e os EUA numa luta para conquistar mais influência em áreas estratégicas do planeta.Assim o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais avançadas nas comunicações como a internet e os satélites ou na área militar como os mísseis balísticos e os submarinos nucleares foram sucessos alcançados por ambos os lados na época como forma de promover os regimes e a capacidade de cada um.
A ciência se beneficiou mas em contrapartida foi usada acima de conceitos morais tanto como a Alemanha nazista e o império japonês durante a guerra haviam feito com experiências em seres humanos em campos de concentração e extermínio.A ética foi posta de lado para se alcançar prestígio e desmerecer o rival.Abaixo são elencados alguns casos notórios da corrida na ciência.

O experimento de Vladimir Demikhov
Um dos experimentos realizados durante a Guerra Fria que mais chocaram o mundo pela sua audácia e resultados foi o de Vladimir Demikhov,médico cirurgião,um dos precursores dos transplantes modernos.Sua fama foi internacionalmente reconhecida até mesmo nos EUA onde ganhou um artigo na revista Life.Suas experiências com cães tentaram unir 2 animais em um único corpo cujas funções fisiológicas também fossem únicas.

Demikhov implantava cirurgicamente partes de corpos de cães como a cabeça com ou sem as patas no pescoço de um cão maior produzindo uma estranha criatura que na maior partes dos experimentos não sobrevivia às primeiras horas após o transplante.
Num raro caso um único espécie sobreviveu por cerca de um mês,o tempo máximo descrito que uma delas suportou,mas como se disse foi um caso raro em cerca de 20 desses experimentos confirmadamente realizados.Numa das demonstrações públicas de sua criatura cujas cirurgias iniciaram em 1954,o animal transplantado bebia leite sob os olhares estupefatos de uma platéia impressionada.O leite ingerido escorria pelas costuras cirúrgicas.

Foto do experimento publicado na revista americana LIFE em 1955

O comportamento da criatura era tão peculiar quanto sua estranha aparência que incomodava muitas pessoas mais sensíveis.Consta que muitos estímulos sentidos por um era imediatamente sentido pelo outro como bocejos,a fome e a sede.Quando um deles bocejava,o outro também o fazia e assim sucessivamente embora também houvesse hostilidade entre eles sobretudo quando o cão maior sacudia vigorosamente sua parte implantada de modo a tentar se livrar dela.



O experimento de Demikhov embora hoje seja eticamente questionável foi usado como propaganda sob a justificativa que os conceitos aprendidos com ela serviriam para posteriores conhecimentos em cirurgia de transplante que ajudariam seres humanos.


O transplante de cabeças de macacos
Outro polêmico experimento empreendido pelas superpotências da Guerra Fria foi o de Robert White,médico americano que transplantou cabeças de primatas entre si.Tudo aconteceu na década de 1970 e o experimento teria sido uma resposta tardia ao 'bem-sucedido' cão de 2 cabeças de Demikhov descrito acima.A proposta constava da remoção cirúrgica das cabeças e seu posterior implante no outro corpo ligando nervos,vasos sanguíneos e a medula óssea.

Momento da operação entre os animais

O experimento aparentemente foi um sucesso com os 2 animais resistido a troca de cabeças,contudo passados 9 dias a rejeição do transplante fez com que os animais morressem.Embora o resultado tenha sido de pequena duração abriu caminho para avanços médicos nas técnicas cirúrgicas sendo hoje lembradas como pioneiras nas tentativas de transplantar cabeças entre seres humanos,um problema ético que tem sido debatido quando um outro médico Sergio Canavero propõe realizar tal feito como anunciado por ele em 2016.

O projeto MK ULTRA
Outro problemático experimento levado a cabo na Guerra Fria foi o MK ULTRA.Um nome em código escolhido pela CIA,a principal agência de segurança e espionagem americana,para conduzir estudos sistemáticos de um suposto controle da mente de um ser humano.A pesquisa foi liderada por psiquiatras responsáveis por investigar diferentes drogas e seus efeitos em seres humanos de modo a torná-los manipuláveis.Isso na prática significava que a pessoa ficava em poder do entrevistador respondendo tudo que fosse perguntado sem mentiras.

Uma jovem vítima do projeto

O programa teria sido uma resposta a um suposto uso de LSD em cidadãos soviéticos por parte do governo para melhor aceitação da ideologia comunista.Além do uso de drogas outras técnicas foram utilizadas como a hipnose,privação de sono e a tortura,técnicas aliás ainda usadas em interrogatórios mas negadas pela CIA para extrair confissões de crimes como terrorismo e espionagem de suspeitos.

O projeto empreendido era ilegal e não constava em relatórios oficiais enviados ao governo americano já que a CIA gozava de autonomia administrativa conduzindo esses estudos em pessoas não-voluntárias como ficou confirmado numa investigação tornada púbica logo após a descoberta do programa.Muitas das cobaias humanas relataram graves sequelas deixadas pelas torturas e indução do consumo de drogas psicoativas.Com o curso das investigações do caso na década de 1970,muitos altos oficiais graduados da agência conseguiram ocultar ou destruir as provas que confirmavam a veracidade das denúncias embora o depoimento das vítimas dele fosse crucial para desmantelá-lo e expôr o escândalo.

O uso do eletrochoque foi uma prática comum durante o projeto de controle mental

Embora outros casos semelhantes e polêmicos se tornaram públicos na época enquanto outros permanecessem em segredo,muitos deles exploravam a justificativa de um bem maior a ser produzido à humanidade enquanto outros eram claras propagandas ideológicas que pretendiam mostrar ao mundo as conquistas empreendidas na medicina por sua respectiva potência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário