quinta-feira, 8 de março de 2018

A Lenda da Papisa Joana


    Essa é uma lenda medieval muito discutida entre historiadores até os dias de hoje:se realmente o relato da papisa Joana teria sido real, vamos entender melhor como essa história começa.

    Numa época de intensa perseguição religiosa que marcou a Idade Média européia,uma curiosa lenda se ressalta nesse contexto.Joana teria sido até hoje a única mulher eleita papa na história ascendendo ao papado como João VIII  em 855,escolhida na ocasião por unanimidade já que era conselheira do papa Leão IV(ou Sérgio II,dependendo da versão).Sua identidade teria sido oculta durante toda sua passagem pela igreja,já que o sacerdócio era proibido às mulheres,assim mantinha roupas e cortes de cabelo masculinos para esconder sua verdadeira identidade.A lenda mais conhecida e aceita sobre a revelação,de que era uma mulher, foi durante o parto em público durante uma procissão na cidade de Roma,tendo sido apedrejada na ocasião como castigo por profanar a santidade do cargo. Joana teria engravidado de um antigo romance,que conhecia seu segredo, reencontrando-o quando já era a papisa em Roma.

   Uma das versões que explicam sua vida é de que teria nascido em 814 numa aldeia alemã de pais ingleses.Muito culta e curiosa, se disfarçava de homem para superar a proibição das mulheres de estudar,assim conquistando um lugar no mosteiro beneditino(da ordem de São Bento) com o nome de João Ânglicus,um dos seus irmãos morto durante a guerra. Ao longo dos anos Joana foi conquistando cada vez mais espaço e confiança dos cardeais de Roma até ser escolhida como papa com o nome de João VIII após a morte de Leão IV em 855 que cuidava como médica(o),um dos conhecimentos que havia adquirido com os anos de estudo junto aos monges o que também é desmentido por alguns estudiosos.É nesse ponto que muitos historiadores e teólogos divergem pois a maioria das fontes documentais que citam o relato histórico de Joana são muito posteriores à sua morte.
    Os primeiros documentos sobre sua vida somente surgem no século XIII,4 séculos após sua história,através de estudiosos da igreja como Estevão de Bourbon. O frade francês Jean Mailly, em sua crônica da mesma época, afirma que Joana de fato teria reinado como papa na data correspondente de 855-858 tendo sido descoberta somente no parto como consta na maioria das versões e Godofredo de Viterbo também confirmam sua existência.Porém,até meados do século XIX,ou seja,cerca de 1000 anos após sua morte ainda surgiam romances sobre ela,como a do grego Emmanuel Roidhes. Logo o papa que teria sido seu antecessor não é certo,podendo ser também o papa Sérgio II como consta na versão da historiadora americana Donna W. Cross,transformada em filme em 2009.

Joana como o papa João VIII

Mais controvérsias sobre sua Vida

   
     A igreja católica ao longo dos séculos se recusou a aceitar que uma mulher havia ocupado a função mais alta na sua hierarquia,e aliando-se a falta de evidências mais concretas e aos múltiplos relatos que divergem em alguns pontos a história de Joana,chegou aos nossos dias com olhares de uma lenda medieval criada com o objetivo de desmoralizar a igreja católica como afirmavam até então.Outros negadores concluíram ser Joana uma história inventada pelos reformadores protestantes como Martinho Lutero e João Huss para enfraquecê-la politicamente,o que cai em descrédito já que Joana viveu muitos séculos antes da Reforma Protestante.Até mesmo versões de que seria uma sátira medieval ou um boato difundido para difamar a Igreja são computados para explicar sua existência.
     A historiadora Donna W. Cross também apresenta outros pontos intrigantes sobre a passagem de Joana pelo cargo mais alto da Igreja citando o fato de que muitos documentos que confirmavam a veracidade de sua história teriam sido destruídos intencionalmente e que na biblioteca do Vaticano haveria o Livro Papal contendo os nomes de todos os papas,desde São Pedro,onde Joana ainda estaria incluída,essa fonte histórica é usada em seu livro como prova da existência verídica do relato da papisa.Esse fato ganha ainda mais respaldo pois a maioria dos documentos que provariam a história de Joana teriam sido destruídos e/ou ignorados para proteger a reputação católica na época.
    Hoje apesar das inúmeros versões sobre sua ascensão ao papado e motivos que justificariam sua história muitos historiadores não acreditam que uma mulher poderia ter sido papa já que ela não poderia esconder uma gravidez por tanto tempo, assim como os papados de Leão IV e João IX(que teria sucedido Joana) coincidem com a data do seu papado tornando a lenda uma invenção já que não haveria tempo para ela exercer seu mandato mas mantendo o romantismo da história de que uma mulher foi hábil o suficiente para enganar a Igreja assumindo o lugar mais alto de sua hierarquia. No entanto mesmo com relatos tão divergentes e incertos por parte de muitos cronistas medievais,sua história chegou até nós com um final consistente cuja existência foi assegurada por eles sugerindo talvez algo de verídico em sua história. Outra curiosidade intrigante sobre ela é que uma das cartas do tarô,uma criação medieval usada como código para burlar a censura católica, é justamente Joana como papisa.

A misteriosa carta de Tarô na qual Joana foi imortalizada como papisa

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