domingo, 1 de setembro de 2019

A história da rainha africana vendida como escrava para o Brasil!

Na Agontimé,poderia ser um nome esquecido na história não fosse a relevância simbólica que a sua vida teve.Rainha e mãe de um rei,foi vendida para servir como escrava no Maranhão,onde fundou uma das casas mais tradicionais de culto e oração da região:a Casa das Minas.Hoje representa uma figura importante que lutou contra a escravidão no Brasil colonial numa incrível história.

Na Agontimé 

A Vida na África
Na Agontimé,começou sua vida como uma pessoa qualquer naquele distante reino de Daomé,hoje conhecido como Benin,um dos maiores entrepostos de escravos da África que aliás era financiado com essa atividade como já demonstrou o historiador brasileiro Manolo Florentino em sua obra Em Costas Negras.Naquele tempo Agontimé serviu como mais uma concubinas no harém do rei Agonglô engravidando e dando luz a seu filho.Consta no entanto que cabia a outro filho,conhecido como Adandozan, governar o Daomé após a morte do rei.
Este rapaz ainda na puberdade já demonstrava uma personalidade cruel e autoritária que não despertava simpatia nem mesmo do oráculo de Ifá,uma importante entidade espiritual dentro da cultura daomeana responsável por enxergar o futuro que pressagiava um reino de terror se ele subisse ao trono.

Sendo assim,Ghezo-o filho de Agontimé,foi o indicado para suceder o pai no trono já que tinha um temperamento conciliador e mais humanitário que seu irmão concorrente que após descobrir os planos manda Agontimé ser vendida como uma simples escrava a traficantes portugueses sendo conduzida como cativa até o estado do Maranhão.

Após o golpe perpetrado por Adandozan,seu meio-irmão Ghezo foge para o exílio enquanto sua mãe começa a padecer dos problemas trazidos com a condição de escravizada.

Vida no Brasil
Para apagar todos os vestígios de Agontimé,Adandozan determinou que o seu nome real fosse ocultado batizando-a com o nome de Maria Jesuína e que seu paradeiro fosse esquecido para assim nunca mais ser encontrada.Com o nome de Maria Jesuína,Na Agontimé,entrou para a história brasileira como uma das mais influentes personalidades religiosas do culto do candomblé.Já instalada no Maranhão,Agontimé conseguiu fundar uma casa que servia como local de culto para suas orações e rituais trazidos da África dentro do candomblé Jeje.A casa onde funcionava este culto continuou a ser usada mesmo depois do retorno de Agontimé à África,embora como este evento aconteceu permaneça sem documentação confiável até os dias de hoje.

Casa das Minas
Um importante legado deixado por Agontimé aos escravizados brasileiros foi a tradição do candomblé Jeje que continuou a ser praticado mesmo após sua partida.Tombada como patrimônio histórico nacional pelo IPHAN,a Casa mantêm as tradições ancestrais onde somente as mulheres podem tomar lugar no culto e nas manifestações espirituais incorporadas na forma de voduns-uma mulher que adquire poderes mágicos quando entra em contato com as entidades sagradas do candomblé Jeje.

Casa das Minas,fundada por Agontimé no Maranhão


Resgate no Brasil
Quando seu filho Ghezo consegue retornar ao Daomé e destronar seu meio-irmão, ele parte em busca por sua mãe desaparecida enviando expedições ao Brasil para tentar resgatá-la.Quanto a esse resgate os registros históricos se perdem embora tudo faça crer que Agontimé voltou à África já que o trono usado por Adandozan foi doado por Gheza a D.João VI na mesma época onde encontrava no Museu Nacional no Rio de janeiro destruído por um incêndio.
O historiador Pierre Verger que estudou em minúcias o caso,concluiu que de fato Na Agontimé era Maria Jesuína,fundadora da Casa das Minas no Maranhão rastreando suas origens até a costa Oeste africana.

Trono de Adandozan,enteado de Agontimé

Hoje Na Agontimé se tornou uma celebridade e importante figura do empoderamento feminino e cultural brasileiro representando a resistência à assimilação e escravização mantendo sua cultura original vinda da Árica.




Nenhum comentário:

Postar um comentário