sexta-feira, 27 de abril de 2018

Porque a Espanha não colonizou o Brasil,se o Tratado de Tordesilhas lhe garantia a maior parte?


   Portugal e Espanha foram os primeiros países europeus a de facto ocuparem o continente americano durante a Era da Grandes Navegações ou da Expansão Marítima européia como também é conhecido esse período histórico pós Idade Média e de nascimento do capitalismo.Com a chegada de Colombo em 1492, a colonização sistemática de Norte a Sul da América atingiu proporções dramáticas dando à coroa espanhola a dianteira na ocupação do continente. Tanto que hoje a maior parte da América Latina é falante de espanhol,uma herança cultural dessa colonização. Portugal diante desse contexto clamava para si,o direito de explorá-lo firmando um tratado com a coroa espanhola na cidade de Tordesilhas,que acabou batizando o tratado em 1494.

Mapa-múndi original de 1494 com o Tratado de Tordesilhas

Mapa-múndi moderno com a demarcação original do Tratado de Tordesilhas

   Tentativas no sentido de repartir as terras 'descobertas e por descobrir' já haviam sido ensaiadas antes da chegada de Colombo à América que inclusive contavam com o apoio da Igreja Católica.Mas foi justamente com o Tratado de Tordesilhas que a divisão das terras da América ganhou o estatuto político confirmado por ambas as coroas. O que não agradou outras potências européias que ficaram fora dele como França,Inglaterra e Holanda,principalmente.

A conquista do México e o Uti Possidetis


   E segundo essa marcação,as terras sitiadas a oeste de uma linha imaginária fixada a 370 léguas(1770 km) a oeste do arquipélago de Cabo Verde caberiam à Espanha enquanto as terras a leste dessa linha, a Portugal. Como fica demonstrado nos mapas da época a maior parte do território brasileiro (confira no mapa acima) pertencia à Espanha como toda a região Norte,Centro-Oeste,parte do Sudeste e Nordeste além da região Sul que chegou a ser explorada por aventureiros espanhóis. No entanto uma série de problemas surgiram inviabilizando o progresso espanhol dentro do Brasil favorecendo assim os portugueses.Dentre os motivos mais relevantes,os historiadores afirmam que a qualidade científica de medir distâncias e demarcar limites geográficos como a linha do tratado era sofrível e que sequer se sabia onde começava a marcação oficial, prejudicando seu mapeamento.Não existia um sistema métrico unificado na época.

   A Espanha por outro lado estava mais envolvida com as conquistas empreendidas em outras partes do continente fazendo pouco caso do Brasil, reforçado com a conquista do império asteca no México em 1521 e dos incas no Peru em 1532,que se tornaria a galinha dos ovos de ouro do Império Espanhol com a descoberta das minas de prata em Potosí conforme demonstra o historiador Eduardo Galeano em sua obra: 'As Veias Abertas da América Latina'. Outro ponto que explica a ocupação portuguesa do Brasil,foi o Uti Possidetis, uma expressão latina que significa como possuís,assim possuais uma doutrina política muito comum na época dos descobrimentos. As terras descobertas pertenceriam aqueles que as ocupavam e que lá estabeleciam cidades, feitorias, portos e etc como os portugueses fariam.
   
   Os espanhóis já muito ocupados e gastando muitos recursos militares e econômicos se preocuparam pouco, deixando de reivindicar os direitos de exploração no Brasil enquanto o rei português D.Manuel enviava expedições de reconhecimento e defesa do litoral contra os franceses que começavam a ameaçar seu domínio na região.Sendo assim sua posse e colonização não somente dependiam de tratados e acordos para assegurar direitos sobre o Brasil. Isso deixou o caminho livre para Portugal manter uma colônia permanente que duraria até a independência em 1822.

domingo, 15 de abril de 2018

O problema do Lixo Espacial

    Desde o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945,as tecnologias militares que foram altamente aperfeiçoadas durante o conflito têm sido empregadas com motivos científicos para alcançar o antigo sonho humano de chegar ao espaço sideral. As tecnologias nazistas de foguetes aprimoradas de pioneiros russos no início do século XX atingiram seu auge quando o mundo entrou na Guerra Fria,a disputa política-ideológica entre EUA e a antiga URSS.Já que cada um deles pretendia ter uma tecnologia mais avançada e insuperável que do outro gerando uma frenética corrida nuclear,armamentista e espacial.A conquista do espaço por sondas,satélites e módulos estava apenas começando naquele final da década de 1940 com os testes produzidos em laboratórios americanos e soviéticos.

Corrida espacial e os detritos

   Já em 1957 os soviéticos enviam o primeiro ser vivo ao espaço,a simpática cadela Laika,morta durante a viagem para a órbita da Terra.Esse feito serviu para demonstrar o avanço técnico soviético em desenvolver equipamentos capazes de colocar materiais e seres vivos em órbita na Terra. Logo se seguiu,o uso mais difundido da tecnologia de lançamento de foguetes entre as superpotências transportando satélites espiões e militares.As sondas espaciais vieram junto chegando à Lua e em outros planetas como foi o caso das sondas soviéticas Venera em Vênus e as americanas Viking em Marte.A Lua foi uma das maiores beneficiadas com os programas espaciais pois foi mapeada com precisão tendo sua geografia totalmente registrada incluindo o seu misterioso lado oculto que tanto despertou a imaginação de escritores de ficção científica no passado.

   No entanto, todo esse avanço científico também gerou detritos que estão em outros planetas ou mesmo vagando pelo espaço sideral sem destino além de satélites desativados que pairam na órbita terrestre e que muitas vezes reentram na atmosfera causando acidentes e que podem também colidir com outros satélites e módulos espaciais. De acordo com fontes oficiais como a NASA,a agência espacial americana, há milhares de satélites e milhões de detritos espaciais girando em torno da terra neste momento com menos que 1 centímetro mas que no vácuo espacial adquirem velocidades supersônicas capazes de perfurar as chapas de alumínio e cerâmica especial usadas pelas agências espaciais.Foram feitos testes em laboratório onde detritos do tamanho de grãos de areia acelerados até mais de 20 mil km/h,a velocidade que tem no espaço, adquiriam o desempenho balístico de escopetas calibre 12 suficientes para destruir equipamento e colocar em risco a vida de astronautas durante suas missões.
   
   Mais numerosos serão esses fragmentos por menores que forem, já que a integridade física dos materiais usados na fuselagem e estrutura de naves e equipamentos espaciais é debilitada com as condições extremas do espaço sideral como a radiação solar e as forças g durante o lançamento,revolução e reentrada desses objetos além de meteoritos e outros detritos espaciais humanos que causarão os mesmos problemas que os lixos sólidos tem na superfície terrestre se não forem controlados.


Representação artística da poluição espacial na órbita da terra,são milhões de fragmentos de acordo com a NASA

Esfera metálica de equipamento espacial é examinada por morador de cidade maranhense no Brasil,após sua queda


  É importante ressaltar que apesar das viagens espaciais serem caras e de propósitos científicos tendo um acesso muito restrito,pelo menos por enquanto tendo em vista o aumento das intenções no turismo espacial, elas servem como um orgulho do avanço científico que o ser humano alcançou no último século,que foi reconhecidamente um dos maiores de toda a humanidade.A ciência continuará se desenvolvendo mas demonstra também que entramos numa era de poluição espacial lançando detritos em seu meio e que causam problemas como os que acontecem na Terra.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

É verdade que os vikings chegaram na América antes de Cristovão Colombo?

   A historiografia tradicional, aquela que aprendemos na escola nos diz que o 'descobridor' do continente americano foi o navegador italiano Cristovão Colombo em 1492.No entanto,nas últimas décadas muitos novos estudos tem sido produzidos e contestado essa versão oficial.


   Em outubro de 1492,Cristovão Colombo, ainda um anônimo almirante italiano a serviço da coroa espanhola, chega ao que seria chamado de Novo Mundo,ou seja o continente americano. Esse fato gerou o processo de colonização e ocupação sistemática do continente.Até esse ponto,os livros didáticos contam a história dessa forma no entanto,o que poucos sabem é que além de Colombo,outro povo europeu chegou à América antes dele com confirmação arqueológica e documental.A palavra 'descoberta' implica uma série de contradições mas que serão debatidas em outro post.

  Os vikings chegaram ao continente americano cerca de 500 anos antes de Colombo fundando uma colônia no Canadá,hoje reconhecida pela UNESCO,o órgão das Nações Unidas pela cultura e educação,como patrimônio da humanidade.Foi com o príncipe viking Leif Ericsson contornando o litoral gelado do Ártico numa difícil viagem e usando uma embarcação de calado raso forrado com peles para vedação.Assim conseguiu chegar a costa leste do Canadá no ano 1000 d.C. e estabelecer uma colônia que prosperou por uma década quando enfim foi abandonada.Os vikings nomearam a terra recém descoberta de Vinland,que significa 'terra das vinhas',devido a quantidade dessas árvores encontradas na região em que desembarcaram.Uma importante parte da documentação da história viking vêm das 'sagas',textos que relatavam as crônicas de seu povo e hoje são fontes de informação historiográfica.

Representação artística dos vikings

   O historiador Jared Diamond em sua esclarecedora obra Colapso concluiu após rigorosas pesquisas que dentre alguns fatores,o que mais explica o fracasso viking em se fixar nas Américas foi a  recusa em manter boas relações com as populações indígenas locais travando assim sucessivas guerras sem tréguas como as sagas relatam.Os constantes ataques indígenas foram suficientes para desmotivar uma colonização prolongada fazendo-os abandonarem a colônia e retornarem à Europa levando consigo o que puderam carregar.

A colônia viking no Canadá chamada de Caverna das águas Vivas
   Em termos históricos e práticos a colônia viking conhecida como Caverna das Águas-Vivas não teve impacto na ocupação do continente pelos europeus do modo como aconteceu com Colombo.Não houve o planejamento de cidades e suas capitais,plantations e um sistema burocrático de administração colonial como a coroa espanhola exerceu expandindo exponencialmente seus domínios sobre todo o continente.Tendo sido apenas uma experiência passageira sem maiores consequências. Por isso,mesmo com a comprovação documental e arqueológica da presença viking no continente americano 500 anos antes de Colombo ela não tem a mesma relevância permanecendo inclusive como um evento curioso e ignorado.

   Também existem outras teorias de visitação e descobrimento das Américas anteriores aos comprovados vikings mas que por serem confusas e até fantasiosas não tem credibilidade historiográfica.Entre eles cabe citar: as viagens medievais do monge irlandês São Brandão assim como os fenícios que teriam até mesmo deixado gravações em pedras à beira-mar no litoral brasileiro demonstrando o pioneirismo em terras americanas.Escrevi um post sobre os fenícios,para acessá-lo clique aqui.

    É importante ressaltar que mesmo com a presença de povos europeus no continente, chegando em diferentes épocas históricas,a palavra 'descobrimento' é imprópria e contestada já que o continente se encontrava ocupado por diferentes povos indígenas por milhares de anos,e que será tema de post em breve.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Como foi a vinda da família real portuguesa para o Brasil?

   210 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil e muitos ainda se perguntam o motivo e as consequências desse fato para a então,mais rica colônia ultramarina portuguesa.

Por que a família real veio para o Brasil?

  O ano de 1808 foi muito conturbado politicamente na Europa,já que ela atravessava uma época muito efervescente:a era napoleônica.Onde o expansionismo francês personificado no então general corso Napoleão Bonaparte conquistava cada vez mais espaço no continente cuja ambição não conhecia limites.Napoleão expandiu suas conquistas incluindo o Norte da África no Egito, fazendo seus exércitos lutarem contra o seu maior e mais poderoso inimigo:o Império Britânico.De todos os adversários europeus,os ingleses representaram a maior ameaça ao poderio napoleônico já que tinham o poder militar e econômico até maior que o francês,sendo uma concorrência poderosa.E Portugal era um dos maiores aliados dos ingleses na Europa,se recusando a ceder às pressões francesas quanto ao Bloqueio Continental decretado por Napoleão e que impedia qualquer comércio com a Inglaterra a fim de isolá-la economicamente.Portugal não mantinha apenas relações diplomáticas com os ingleses mas também um importante comércio,que privilegiava os interesses britânicos.
   Dom João VI,ainda príncipe regente,apesar de sua mãe Dona Maria I de fato ser a rainha soberana de Portugal,suspeitava que Napoleão pudesse enviar tropas para removê-lo do poder do mesmo modo como havia feito com o monarca da vizinha Espanha. A Inglaterra prometeu apoio militar logo que os preparativos para a fuga fossem concluídos,o que não tardou a acontecer pois as tropas franceses lideradas pelo general Junot estavam às portas de Lisboa quando a frota com cerca de 10 mil pessoas da corte de D.João zarpou rumo ao Brasil num feito inédito na história moderna pois nenhuma corte européia jamais havia se transferido integralmente para uma colônia fazendo dela sua metrópole.
   O ato da família real portuguesa de abandonar seu reino à própria sorte suscita muitos debates historiográficos que reconhecem em sua covardia um modo de perpetuar o trono português.

Embarque da família real no porto de Belém,Portugal em novembro de 1807


O príncipe regente Dom.João VI em 1817


De colônia a reino do Brasil


    A viagem que durou cerca de 2 meses teve como primeira parada a cidade de Salvador,na Bahia,primeira capital oficial do Brasil.Pouco tempo depois chegou ao Rio de Janeiro, a mais importante cidade da colônia e que logo passaria a ser a capital do Reino Unido do Brasil,Portugal e Algarves nome que adquiriu o Brasil,transformando-o de colônia a reino.Como tal,o Brasil deveria atender as necessidades de um reino adaptando-se aos hábitos da realeza e para isso D.João VI abre os portos brasileiros às nações amigas expandindo o comércio com o exterior já que Portugal estava sob ocupação francesa e o pacto colonial,que forçava o Brasil a comercializar somente com sua metrópole estava suspenso.
    Na prática,a abertura dos portos beneficiou a Inglaterra que como recompensa pelo apoio a Dom João VI ganhava tarifas muito baixas sobre seus produtos vendidos ao Brasil,enchendo o mercado brasileiro de muitos produtos e alguns deles até inusitados à vida e clima tropicais brasileiros,como patins de gelo entre outros.A vinda da família real beneficiaria tremendamente o capital industrial inglês em expansão com o aquecimento da Revolução Industrial e ainda carente de mercados consumidores.
    D.João durante sua estada no Rio de Janeiro também trouxe inovações importantes que seriam legados à cidade como o Jardim Botânico,o Museu Nacional(hoje administrado pela UFRJ),a Academia de Belas Artes e a Biblioteca Nacional entre outras realizações que ainda hoje fazem parte da vida do brasileiro tendo importante papel cultural para o Brasil como influentes centros de pesquisa.A ideia de transformar o Rio de Janeiro numa cidade à altura da realeza portuguesa era promissora e foi perseguida durante o tempo em que esteve no Brasil.A missão artística francesa que trouxe pesquisadores e artistas europeus para documentar a vida brasileira foi outra realização de vulto que serviu para sedimentar o caráter progressista de suas reformas na vida política,econômica e cultural brasileira.

   O escritor e historiador Laurentino Gomes em seu livro 1808,reconhece as realizações do período joanino como transformadoras do contexto sócio-político brasileiro trazendo avanços antes inatingíveis ao Brasil e que introduziram-no na modernidade.