domingo, 23 de dezembro de 2018

O Problema do Aquecimento Global:seu histórico,mitos e verdades.

   Um tema muito recorrente nos dias atuais e que chama a atenção de políticos,mídia,comunidade científica e o público de modo geral tem sido a questão do aquecimento global,tema do post de hoje.



   O aquecimento global é um fenômeno moderno ligado ao chamado efeito estufa,que aquece o planeta em níveis acima da normalidade causando problemas para a humanidade e impactos ambientais graves que prejudicam os ecossistemas e a própria capacidade dos seres humanos de se sustentarem com esses recursos.

   O aumento do nível dos oceanos e as mudanças climáticas são consequências diretas dele.O efeito estufa basicamente seria um fenômeno climático no qual os gases emitidos por fontes humanas,sobretudo o dióxido de carbono(CO2) dissipado pela queima de combustíveis fósseis e as queimadas.

Breve histórico
   Com o advento da era moderna e a Revolução Industrial,a vida humana tomou rumou antes inimagináveis passando do modo de produção artesanal e manufatureiro,característicos da Idade Média e Moderna para o modo fabril,industrial.

Clique aqui para acessar uma postagem sobre os males da Revolução Industrial já publicado neste blog.

    A mecanização neste contexto assumiu proporções que aceleraram o processo de fabricação de mercadorias onde uma única máquina era capaz de produzir uma mesma quantidade de roupas que 100 pessoas juntas numa estimativa grosseira por exemplo.
   Assim,as máquinas foram cada vez mais assumindo papéis importantes na sociedade industrial.
E para acompanhar essa nova era,os combustíveis eram cruciais já que foram responsáveis pela força motriz dessas máquinas.

   Um dos primeiros combustíveis fósseis a ser utilizados pelos pioneiros industriais teria sido o carvão mineral,fundamental para manter as caldeiras acesas de máquinas a vapor,as primeiras usadas na introdução da Revolução Industrial cuja matéria-prima ainda hoje é utilizada em usinas termelétricas sendo extremamente poluentes.

   A partir deste pioneirismo industrial que se espalharia para as demais partes do mundo globalizado, o uso desses combustíveis fósseis tornou-se cada vez mais alinhado com o capitalismo e mais precisamente a era do Capital, como na obra homônima do historiador Eric Hobsbawm.

   O progresso alcançado pelo avanço do sistema capitalista com o livre comércio e a lei da oferta e da procura além da própria competitividade entre investidores com a construção de linhas férreas,navios,armamento entre diversos já nesta época, gerou impactos de ordem social e política mas também ambientais que somente seriam levados a sério em pleno século XX,cerca de 200 anos depois do início da revolução.

   O escritor francês Júlio Verne em algumas de suas obras coloca o tema do progresso como necessário e inevitável mesmo que ele significasse a destruição do meio ambiente para dar lugar a estradas de ferro ou usinas.Na sua época,século XIX,o neocolonialismo europeu atingiu o seu auge e a submissão de países e de seus povos considerados como 'inferiores' supostamente justificava esse comportamento.

   O meio ambiente de fato nunca foi tratado como um tema digno de cuidado por governantes e administradores já que sempre foi visto como mera fonte de matéria-prima para revolução e o mercado do capital assim o desmatamento,a caça e a pesca predatória e a mineração alcançaram níveis cuja destruição do ambiente beira o absurdo.

Destruição ambiental causada pelo garimpo de ouro com uso de mercúrio em Serra Pelada no Pará,Norte do Brasil

   Porém os primeiros movimentos que visavam proteger a natureza começam a partir dos anos 1960 com a questão do pacifismo pregado por jovens universitários engajados na causa hippie e as convenções do meio ambiente como a de Estocolmo ou o Clube de Roma por exemplo,que reconheciam a salvaguarda da natureza como uma questão vital para a manutenção da própria qualidade de vida dos seres humanos criando os conceitos usados até hoje nesta área.

Aquecimento global,um problema...
   Neste ponto é interessante também reconhecer que com o século XX novos problemas que fortaleceram o aquecimento global tornaram-se visíveis e que ainda não existiam no início da Revolução Industrial como a explosão demográfica,a disseminação de armas nucleares,desastres ambientais,o constante uso de produtos tóxicos que poluem gravemente o ambiente,as queimadas que abrem lugar para o pasto.

   Neste aspecto por exemplo as emissões de dióxido de carbono provocadas por queimadas respondem por uma boa parte do efeito estufa como acontece na floresta amazônica.

Usina eólica funcionando com a força dos ventos

   O escapamento de veículos automotores,outro importante emissor tem sofrido constantes avanços e aprimoramentos ao longo das décadas justamente com a proposta de minimizar os efeitos causados pela poluição como o uso de combustíveis à base de produtos vegetais como o álcool além de veículos elétricos.

   O investimento em tecnologias com fontes renováveis de energia também tem sido uma constante na qual até mesmo conta com incentivos governamentais de certos países.A energia solar,eólica,nuclear e até mesmo das ondas do mar tem sido usadas para gerar energia de forma a não prejudicar o meio ambiente.
   Hoje a indústria de automóveis tem promovido ações que visem aperfeiçoar o uso de tecnologias chamadas limpas,ou seja,sem a emissão de poluentes ou que os emitam em níveis aceitáveis por convenções internacionais.

Ave coberta de óleo no acidente ambiental causado por navio petroleiro em 1989 no Alasca,EUA


Aquecimento global como conspiração?
   O aquecimento global faz parte do rol de teorias conspiratórias muito divulgadas a partir dos anos 2000.A corrida comercial tem produzido insinuações de que ele seria uma invenção de parceiros comerciais para atrapalhar o crescimento econômico do outro assim adquirindo mais mercados para seus produtos e evitando as normas sobre a emissão de gases poluentes.
   Neste sentido o protocolo de Kioto assinado no Japão em 1997 com a aderência de diversas nações mundiais se comprometeriam a reduzir suas emissões até 2012 quando entraria em vigor outro acordo.

   Os negadores do aquecimento também argumentam que não existe provas científicas que ele está acontecendo já que o planeta já esquentou e resfriou em eras passadas não sendo a influência humana um fator nesse processo.Alguns presidentes americanos já se pronunciaram a respeito da viabilidade do cumprimento do protocolo pelos EUA,se recusando a atender as metas estabelecidas para não prejudicar o seu equilíbrio econômico e seu padrão de consumo,um dos maiores do mundo.

   Há muitos outros argumentos que tentam igualmente desacreditar o fenômeno do aquecimento contudo as constantes tempestades tropicais,as ondas de calor que afetam regiões temperadas como a Europa e o Japão e o derretimento das calotas polares tem sido uma prova irrefutável da culpabilidade humana nas mudanças climáticas.
Desastre natural ocasionado pelas fortes chuvas no Rio de janeiro em 2011
   Daqui há algumas décadas algumas cidades costeiras como Rio de Janeiro,Nova Iorque ou Londres poderão sofrer com o aumento do nível da água dos oceanos cobrindo uma parte de sua área,a praia de Copacabana,famosa mundialmente desapareceria neste catastrófico contexto.

   Enquanto persiste uma queda de braço entre cientistas e políticos que tentam desacreditar o aquecimento global,os efeitos deste se tornam cada vez mais severos ameaçando vidas em todo o mundo,analistas já concordam que em pouco tempo as mudanças climáticas supracitadas provocarão um fenômeno social novo chamado de refugiados climáticos,pessoas que fugiriam de seus países de origem devido às alterações do clima e suas consequências drásticas.

domingo, 2 de dezembro de 2018

O Lado Obscuro da Grande Depressão Econômica de 1929-A Maior Crise do Capitalismo Moderno

No ano de 1929,o mundo presenciaria a maior crise que o capitalismo vivenciou desde sua implantação como modo de produção na era moderna,a chamada Grande Depressão resultado da quebra da bolsa de valores de Nova Iorque nos EUA.Esta crise financeira,a maior na escala,seria responsável pela falência de milhares de bancos,empresas e latifundiários.Milhões de pessoas seriam demitidas de seus postos de trabalho enquanto as que permanecessem teriam seus salários reduzidos.Essa foi e continua sendo a maior crise que o sistema financeiro mundial atravessou,altamente dependente do capital americano.



Florence Thompson,mãe de sete filhos numa famosa fotografia que se tornou símbolo da depressão

Antecedentes da Depressão

Os anos 1920,foram prósperos para a nação americana que havia sido uma das vencedoras da 1ª Guerra Mundial e portanto uma das maiores fornecedoras de produtos e créditos para o mundo e a Europa arrasada pelo conflito que durou longos 4 anos,a exemplo do que aconteceria na 2ª Guerra.

O clima de otimismo dominou os empresários americanos que viam seus investimentos na bolsa de valores multiplicarem enquanto seus negócios evoluíam no mesmo ritmo.Os investimentos se ampliavam para todas as áreas da economia fazendeiros pediam grandes empréstimos aos bancos para comprar máquinas e assim melhorar a produção no campo,nas cidades a compra de imóveis crescia assim como a produção desenfreada de mercadorias que enchiam o mercado consumidor.

É digno de nota que a fase compreendida entre o início do século XX e a depressão foi a que teve uma das maiores influências teóricas no campo do trabalho e da produção fabril desde a introdução do marxismo e dos estudos de Max Weber nas cátedras universitárias.Propostas teóricas como o taylorismo e o fordismo foram especiais no sentido de incentivarem o aumento na produção e os ganhos dos empresários com a montagem de série e em larga escala de automóveis,desenvolvido por Henry Ford, que depois envolveria todas as mercadorias comercializadas assim como a fiscalização rigorosa do trabalho individual dos operários nas fábricas otimizando o tempo ao máximo em busca do lucro como foi defendido pela teoria taylorista de Frederick Taylor.

Carros produzidos em série que deu fama a Henry Ford e símbolo de prosperidade dos EUA pré-Depressão

Assim os EUA,já sedimentados como a maior potência industrial do globo em 1929 que havia ultrapassado sua concorrente e ex-metrópole Reino Unido em finais do século XIX,reuniu o contexto teórico que incentivava a produção com o consequente clima de otimismo dos lucros gerados mas com resultados que seriam lamentados logo depois.Alguns historiadores como o brasileiro José Jobson Arruda argumentam que a superprodução de mercadorias pode ter sido a principal causa da Depressão,já que com tantos produtos no mercado nem todas as pessoas poderiam e teriam dinheiro para comprá-los ocasionando assim prejuízo para os fabricantes e queda no valor das ações das empresas uma causa admitida entre a maioria dos historiadores econômicos.

Para todos os efeitos a crise havia se instalado como já estava acontecendo antes do fatídico 24 de outubro de 1929,conhecida como a quinta-feira negra na qual a Depressão se confirmaria definitivamente e levaria anos para ser superada gerando graves problemas em escala nacional e mundial.

A pobreza e ascensão de governos totalitários
Com a quebra da bolsa o dinheiro investido em países estrangeiros precisou ser repatriado pelos EUA,na prática isso significou que todos os créditos e empréstimos realizados deveriam voltar.Como é de se esperar essa medida causou consequências drásticas na economia européia e mundial.Sem o dinheiro americano muitos bancos europeus também faliram junto às empresas num efeito cascata,logo a inflação alcançou picos históricos e inacreditáveis.



Mulher com seus filhos numa favela durante a depressão

Consta que somente na Alemanha as pessoas precisavam ir aos mercados com carrinhos de mão cheios de dinheiro para comprar somente um pão ou um maço de cigarros.Nos bares não era diferente,se comprava o máximo de cervejas possível em uma única rodada pois os preços mudavam de um minuto para outro encarecendo-a.O marco,a moeda corrente alemã na época não valia sequer o próprio papel onde era impressa.Situações como esta foram usadas como uma das justificativas do revanchismo alemão pregado por Adolf Hitler na sua
conquista do poder.

No Brasil a crise afetou a produção de café,principal produto de exportação da época.Com os EUA mantendo uma política de repatriação de divisas e não comprando mais do Brasil,muitos cafeicultores foram à falência,obrigando o então governo federal a protegê-los comprando os excedentes.

Neste contexto demagogos com discursos nacionalistas como Adolf Hitler na Alemanha ou o general Francisco Franco na Espanha conquistam a adesão popular chegando ao poder de seus respectivos países com suas posturas que privilegiavam a economia nacional,o incentivo à industrialização e militarização da sociedade.

Outras consequências da Depressão
Os EUA,o maior afetado pela crise sofreu com a alta do desemprego,preços altos,criminalidade e as declarações de falência.Até aquele período da história este país jamais havia experimentado uma situação de vacas magras como esta.O então presidente Herbert Hoover,foi responsabilizado pela crise enquanto favelas eram erguidas ao longo do país num fenômeno sócio-econômico devastador.

Confronto entre policias e moradores numa favela americana durante a Depressão

Na esteira desta crise,alguns eventos como o avanço da criminalidade foram tomando as manchetes dos jornais levando criminosos como assaltantes de banco à fama repentina.Os bancos que tomavam as casas e fazendas de pessoas endividadas pela crise também eram responsabilizados pela população,que assim via os assaltantes de banco como o famigerado John Dillinger como uma espécie de herói às avessas pois enquanto roubava os estabelecimentos rasgava as hipotecas que comprovavam as dívidas geradas pelas pessoas.

Estes fatos faziam com que a simpatia pública crescesse em relação a estes homens fora-da-lei.No auge da fama Dillinger foi considerado inimigo público número 1 dos EUA com uma farta recompensa de 20 mil dólares sendo concedida àquele com informações que o prendessem,uma fortuna num país com a própria moeda desvalorizada.Esta época foi considerada a era de ouro dos assaltos à banco.
Cartaz de procurado de John Dillinger com 20 mil dólares de recompensa,uma fortuna na época da Depressão

O crime também fez o descendente de italianos Al Capone outro ícone marginal da época já que concentrava uma rede criminosa onde bordéis,assassinatos por encomenda,jogos,corrupção policial e tráfico de bebida alcoólica eram controlados por ele.

Contudo com as eleições se aproximando as pessoas concluíram em votar num democrata já que haviam se desiludido com o partido republicano de Herbert Hoover alegadamente o culpado pela depressão elegendo então Franklin Delano Roosevelt para presidente.Ele ficaria conhecido pelo emergencial e ambicioso plano de recuperação fiscal conhecido como New Deal,baseado nas ideias de intervenção estatal do economista inglês John Keynes.

Com a implementação do plano os EUA saíram mais fortalecidos do que quando entraram na Depressão absorvendo mão-de-obra desempregada construindo barragens,estradas,pontes e curiosamente aumentando os salários para induzir o poder de consumo dos americanos.Com o início da 2ª Guerra em 1939,os EUA se consolidariam como a potência econômica absoluta do mundo.

Franklin Delano Roosevelt


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