Vamos entender, de modo relativamente rápido e resumido, como ele começou, quem são os envolvidos e como tem sido a relação entre os países da região desde a fundação do Estado de Israel em 1948.
IMPORTANTE: O artigo não pretende e nem poderia ser uma análise completa dos eventos geopolíticos, se é que ela existe, que acontecem na região. Mas lança indicações para aqueles que tem interesse em se aprofundar no assunto recorrendo a mais informações disponíveis em diferentes mídias e fontes.
Mapa atual de Israel |
Mapa do território palestino(Faixa de Gaza + Cisjordânia) |
A Fundação do Estado de Israel
No final de Segunda Guerra Mundial em 1945 os horrores dos campos de extermínio da Alemanha nazista começaram a vir à tona na imprensa do mundo todo. Cenas inimagináveis de destruição e morte que levaram a vida de milhões de pessoas para câmaras de gás ,fuzilamentos ,enforcamentos ,doenças e a fome. As principais vítimas do nazismo foram 6 milhões de judeus. As potências vencedoras da guerra se organizaram como forma de manter a paz mundial e assim adotaram, por consenso, medidas que favorecessem os direitos humanos e a reparação pelos danos da perseguição sofrida.
Cena do Holocausto nazista onde 6 milhões de judeus foram assassinados |
Dentre essas medidas foi o consenso em dividir a Palestina para os refugiados judeus sobreviventes do Holocausto nazista. Foi um plano aprovado pelas Nações Unidas chamado de Partilha da Palestina que iria vigorar a partir de 1948. A proposta era dar um lar aos judeus. 'Devolver' a terra sagrada ao povo judeu.
Assinatura da Independência do Estado de Israel em 1948 |
Em 1947 foi aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas a criação do Estado de Israel pela resolução 181. Tanto Estados Unidos quanto União Soviética, já na Guerra Fria, votaram a favor da medida já que a área estava sob o Mandato Britânico da Palestina ,controlado pelos ingleses, e se encerraria em 1948. Logo Israel será reconhecido por todos os países do mundo, salvo exceções, como um Estado soberano independente.
A Palestina antes dos Judeus
A região que pertencia à Palestina já foi uma área historicamente pertencente a diferentes povos como fenícios ,persas, romanos até a chegada dos muçulmanos. De fato a área já era ocupada pelos hebreus,povo de origem judaica, há mais de 4 mil anos. De acordo com a Torá, livro sagrado dos judeus, a terra de Israel teria sido dada aos patriarcas da religião,Abraão, Isaque e Jacó, por Deus. Foi lá que foram construídos os Templos de Salomão e ainda hoje persistem ruínas sagradas como do Templo de Herodes- O Muro das Lamentações.
Palestina é um nome que começa a aparecer com a ocupação romana da região. Hoje ela é composta por 2 territórios isolados entre si: a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Porém antes da chegada dos judeus em 1948 ele era ainda maior.
Já foi publicada no blog um artigo sobre os judeus, clique aqui e leia!
Aqueles povos citados foram ocupando a região em ondas sucessivas ao longo da História. No caso dos muçulmanos: estes vão permanecer na região por mais tempo até serem absorvidos pelo Império Otomano ,liderado pelos turcos, que só perderão a região após a Primeira Guerra Mundial para o Império Britânico. Os judeus historicamente habitavam a região desde antes do Império Romano passando por sucessivas expulsões que reduziram a sua população. Os árabes que estavam na Palestina também já haviam construído laços históricos, religiosos e culturais com o local.
O Início das Hostilidades
Os países que hoje compõem o Oriente Médio , que são de maioria muçulmana, logo que viram a fundação do Estado Judeu na região se manifestaram contra exigindo a retirada dos judeus que foram vistos como colonos. Foi a nakba que significa tragédia em árabe por causa da perda das terras para os judeus. Egito, Jordânia, Líbano, Síria, Iraque por exemplo começaram a se organizar para tentar expulsar ,sob uma guerra, os judeus que haviam se instalado na Palestina.
A chegada dos judeus foi vista como ilegal por vários desses povos que não os aceitavam. A justificativa para os atos de guerra contra os judeus é que eles eram invasores e implantavam um regime de colonização ao estilo europeu. Inclusive este discurso é repetido por autoridades que são antissemitas como os aiatolás do Irã e ex-presidentes como Nasser do Egito.
Após a implantação e chegada dos judeus na área, em 1948, várias guerras serão deflagradas com a união dos países da região como a primeira guerra árabe-israelense de 1948,a Guerra dos Seis Dias em 1967 e o Yom Kippur em 1973,todas com vitória israelense. Esses conflitos serviram para destruir as capacidades militares dos árabes em enfrentar Israel no campo de batalha utilizando exércitos profissionais.
A partir deste ponto atividades terroristas serão usadas contra judeus em todo o mundo.
Jipe israelense passando por um tanque egípcio destruído na Guerra do Yom Kippur em 1973 |
-guerra que serviu para destruir qualquer força militar profissional árabe na região
As Narrativas de ambos os Lados
Segundo as narrativas israelenses as justificativas para a criação do Estado Judeu na Palestina são a retomada e volta para a Terra Santa descrita na Bíblia judaica como legítima. Foi em Jerusalém que o judeu Abraão tentou sacrificar seu filho Isaque. A própria ideia de 'Terra Santa' é um conceito aceito por judeus ,cristãos e muçulmanos que habitaram e tem uma história em comum na região. E no caso judeu, com a questão do Holocausto nazista uma solução para os refugiados judeus foi instalá-los na Palestina, uma região com laços religiosos e culturais com eles.
A ideia de volta para a Terra Santa também era defendida por um intelectual judeu húngaro chamado Theodor Herzl que escreveu o influente livro O Estado Judeu que descrevia a reivindicação de um 'lar' para o povo judeu, sempre perseguido na história,o sionismo. Herzl escreveu este livro numa época em que os pogroms, perseguições violentas contra judeus, eram recorrentes na Rússia e Europa Oriental de onde vinha este autor.
Do lado palestino tem-se uma teoria comum defendida contra a colonização que era ainda existente na época da criação do país Israel, reconhecido em todo o mundo como soberano. A Palestina segundo os judeus e a ONU era uma terra sem povo e os árabes habitantes dali eram ,controversamente, uma 'parte da paisagem'. Com a constante resistência contra a chegada dos judeus uma narrativa que os via como colonizadores da região ficava mais forte. Outro ponto recorrente da narrativa palestina é vê-los como 'invasores' e por isso mesmo não os reconhecer como um país soberano governado por leis que os demais países do mundo respeitam.
No século XX serão sucessivas guerras e rebeliões contra Israel partindo da Palestina. No final dos anos 1980 serão iniciadas as Intifadas, rebeliões em língua árabe, contra a ocupação israelense. As Intifadas mostrarão um caráter ainda mais dramático já que envolverão crianças e jovens armados de paus e pedras contra a tecnologia high tech bélica israelense. Israel tem sido citado na imprensa internacional e também órgãos humanitários como genocida contra o povo palestino.
Existe Solução para o conflito?
Segundo a ex-primeira-ministra israelense Golda Meir ''se os árabes baixarem as armas a guerra acaba mas se Israel baixar as armas é Israel quem acaba''. Golda dirigiu o país em momentos de alta tensão como no sequestro e morte dos 11 atletas israelenses pelo grupo terrorista Setembro Negro nas Olimpíadas de Munique na Alemanha em 1972. A Organização para Libertação da Palestina, órgão criado para defender a independência dos territórios ocupados por Israel, enxerga a solução para o conflito como a retirada completa dos israelenses da Palestina e a criação de um país soberano e independente. Já grupos terroristas como Hamas pregam a destruição total do país.
Golda Meir(em primeiro plano), influente primeira-ministra israelense em 1973 durante a Guerra do Yom Kippur |
O renomado escritor e Prêmio Nobel israelense Amós Oz argumentava que o impasse era claro entre os objetivos entre judeus e palestinos mas que era necessário chegar a um consenso em que ambos teriam de ceder e conviver no mesmo local em paz.
Edward Said,intelectual palestino morto em 2003.Sua obra-prima Orientalismo é uma referência dos estudos chamados pós-coloniais. |
Do lado palestino tem-se o influente intelectual Edward Said que inventou os estudos pós-coloniais tão comuns em universidades pelo mundo ocidental incluindo no Brasil. A sua ideia era a de que Israel de fato era um colonizador já que expulsara os palestinos que estavam na região. Mas também acreditava que ambos povos poderiam viver em paz em um mundo onde a religião e a política não se misturariam.
Recomendação de fontes:
Munique(2005) de direção de Steven Spielberg para entender a dinâmica do sequestro dos atletas israelenses durante as Olimpíadas de 1972 e as reivindicações dos palestinos.
Orientalismo livro de 1973 de Edward Said que aprofunda o estudo e crítica da visão sobre o Oriente sempre ser visto sob a perspectiva daqueles que são de fora como o Ocidente.